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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            o pessoal. A verba para os combustíveis e para os óleos era também considerada
            insuficiente.  As queixas e os amargos relatórios sobre a organização da divisão
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            OTAN são constantes e revelam as dificuldades na sua estruturação. Estas eram
            um reflexo do próprio atraso do país.
                  Um facto ao acaso, mas sintomático, expressa esta situação. Quando o
            Exército se preparava para receber o primeiro carro de combate médio de 46
            toneladas, em 1952, descobriu-se que em Portugal só havia um camião atrelado
            com capacidade para o transportar e que ter-se-ia de ir requisitá-lo ou pedi-
            -lo  emprestado  à  Companhia  Nacional  de  Eletricidade.  Tratava-se  do  camião
            gigante dessa companhia que por acaso nessa altura do ano estaria em Lisboa,
            mas se a decisão do comando militar superior fosse a de transportar os novos

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            blindados por via-férrea, teria então de ser enviado para o Entroncamento.
            António Telo observou que o novo blindado oriundo dos EUA representava um
            acréscimo de potencial bélico imenso por comparação com o material blindado
            então existente em Portugal. Face ao Centauro com 24 Toneladas e uma peça de
            57mm, o M 47 pesava 46 Toneladas e tinha uma peça de 90mm.  123
                  Os recursos nacionais técnico-industriais eram muito limitados, e era esse
            facto que explicava em boa parte a miopia dos altos comandos na compreensão da
            imensidade de meios que eram necessários para pôr em pé de guerra uma força
            militar, mesmo que ela somente fosse uma divisão de infantaria. Nesse ponto,
            o contacto dos militares portugueses com os seus parceiros na OTAN seriam
            imensamente  benéficos  e  permitiriam  uma  reorganização  em  profundidade
            dos hábitos e métodos da força militar terrestre. Entre 1951 e 1959, o Exército
            passou por uma profunda reestruturação de métodos e hábitos de organização.
            Logo em 1952, uma diretiva do CEME propunha a reorganização e a modificação
            da formação militar, menos assente nas habilitações literárias e mais nos aspetos
            de liderança, segundo o modelo do US Army. Seguindo as propostas do MAAG,
            era avançada a constituição de comandos operacionais desde tempo de Paz.
            Para solucionar a questão era proposto, face ao reduzido número de pessoal do


            121  AHM – Fundos Orgânicos, 31ª Divisão, 4ª Secção, Caixa 380, Nº 80, Documento intitulado
            Relatório Sumário das Manobras de 1956, datado de 16 e outubro de 1956, pp. 19-24 do referido
            documento e assinada pelo Diretor das Manobras, General Buceta Martins.
            122  AHM – Assuntos Militares Gerais, 3ª Divisão, 49ª Secção, Caixa 2, Nº 15. Memorando datado
            de 5 de abril de 1952 assinado pelo Chefe da Secção de Rearmamento Major CEM Santos Paiva.
               TELO, António – Inovação Tecnológica e Defesa. In BARATA, Manuel Themudo; TEIXEIRA Nuno
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            Severiano (Dir.) – Nova História Militar de Portugal. Lisboa, 2004, p. 508, nota 206.
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