Page 456 - recrutamento
P. 456
RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
o pessoal. A verba para os combustíveis e para os óleos era também considerada
insuficiente. As queixas e os amargos relatórios sobre a organização da divisão
121
OTAN são constantes e revelam as dificuldades na sua estruturação. Estas eram
um reflexo do próprio atraso do país.
Um facto ao acaso, mas sintomático, expressa esta situação. Quando o
Exército se preparava para receber o primeiro carro de combate médio de 46
toneladas, em 1952, descobriu-se que em Portugal só havia um camião atrelado
com capacidade para o transportar e que ter-se-ia de ir requisitá-lo ou pedi-
-lo emprestado à Companhia Nacional de Eletricidade. Tratava-se do camião
gigante dessa companhia que por acaso nessa altura do ano estaria em Lisboa,
mas se a decisão do comando militar superior fosse a de transportar os novos
122
blindados por via-férrea, teria então de ser enviado para o Entroncamento.
António Telo observou que o novo blindado oriundo dos EUA representava um
acréscimo de potencial bélico imenso por comparação com o material blindado
então existente em Portugal. Face ao Centauro com 24 Toneladas e uma peça de
57mm, o M 47 pesava 46 Toneladas e tinha uma peça de 90mm. 123
Os recursos nacionais técnico-industriais eram muito limitados, e era esse
facto que explicava em boa parte a miopia dos altos comandos na compreensão da
imensidade de meios que eram necessários para pôr em pé de guerra uma força
militar, mesmo que ela somente fosse uma divisão de infantaria. Nesse ponto,
o contacto dos militares portugueses com os seus parceiros na OTAN seriam
imensamente benéficos e permitiriam uma reorganização em profundidade
dos hábitos e métodos da força militar terrestre. Entre 1951 e 1959, o Exército
passou por uma profunda reestruturação de métodos e hábitos de organização.
Logo em 1952, uma diretiva do CEME propunha a reorganização e a modificação
da formação militar, menos assente nas habilitações literárias e mais nos aspetos
de liderança, segundo o modelo do US Army. Seguindo as propostas do MAAG,
era avançada a constituição de comandos operacionais desde tempo de Paz.
Para solucionar a questão era proposto, face ao reduzido número de pessoal do
121 AHM – Fundos Orgânicos, 31ª Divisão, 4ª Secção, Caixa 380, Nº 80, Documento intitulado
Relatório Sumário das Manobras de 1956, datado de 16 e outubro de 1956, pp. 19-24 do referido
documento e assinada pelo Diretor das Manobras, General Buceta Martins.
122 AHM – Assuntos Militares Gerais, 3ª Divisão, 49ª Secção, Caixa 2, Nº 15. Memorando datado
de 5 de abril de 1952 assinado pelo Chefe da Secção de Rearmamento Major CEM Santos Paiva.
TELO, António – Inovação Tecnológica e Defesa. In BARATA, Manuel Themudo; TEIXEIRA Nuno
123
Severiano (Dir.) – Nova História Militar de Portugal. Lisboa, 2004, p. 508, nota 206.
444