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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

                     Esta  lógica,  que  já  advinha  de  antanho,  é  visível  na  carta  que  Paulo
               Cunha  remete  ao  embaixador  dos  EUA  em  Portugal,  Lincoln  Mac  Veagh  em
               1951, por ocasião da assinatura do Acordo de Auxílio Mútuo entre Portugal e
               os EUA, assinado em 5 de janeiro de 1951. Nessa missiva, Paulo Cunha reforça
               as explicações dadas pelo embaixador, observando que relativamente à parte
               I do tratado, a cedência de material consignado no mesmo era feita a título
               gratuito, podendo ser o material oriundo de outros países, relevando o caso da
               Grã-Bretanha. Assim dizia o texto que “com respeito à assistência militar a que
               se refere a alínea 1ª do Artigo I, declarou vossa excelência que as disposições
               deste artigo se aplicam essencialmente ao auxílio prestado a título gratuito (...).
               Ainda com respeito à alínea 1ª do Artigo I, a assistência militar sem pagamento,
               a  conceder  pelos  Estado  Unidos,  deverá  abranger,  além  dos  fornecimentos
               diretos pelos Estados Unidos, os casos em que o material tenha de ser fornecido
               de outras origens, incluindo portanto, se for considerado desejável, material de
               origem britânica”. 109

                     O objetivo português, como se deduz desta missiva, era o de conseguir
               com  o  mais  baixo  custo,  o  maior  rearmamento  possível  e  o  maior  exército
               possível. No entanto, se os objetivos de forças a alcançar eram desmesurados,
               mesmo quando mais ponderados, a mobilização da primeira divisão encontrava
               cada vez mais escolhos, motivados fundamentalmente pelos parcos recursos
               tecnológicos-industriais  existentes  em  Portugal  e  pela  sua  débil  indústria  de
               defesa. Estas debilidades obrigavam a sucessivos adiamentos na constituição
               das diversas divisões projetadas e reduzia o efetivo realmente operacional  a
               uma única e incompleta divisão OTAN.


                     4. Confronto de Mundos: o exército entre o Ideal e o
                        Possível
                     Em 1953 previa-se ainda a criação de uma força de três divisões para o
               corpo de exército dos Pirenéus e de duas para o corpo de exército a integrar
               nas forças da OTAN no Sul de França, para além da existência de Unidades de



               109  AHDMNE – Caixa 1, Maço 27, Armº 63, 2º Piso, Carta de Paulo Cunha a Lincoln Mac Veagh
               datada de 5 de janeiro de 1951 e apensa ao Acordo de Auxílio Mútuo entre Portugal e os Estados
               Unidos da América, assinado em Lisboa a 5 de janeiro de 1951. Observe-se que outra preocupação,
               muito saliente, era a possibilidade de transferir material de guerra fornecido no âmbito da OTAN,
               da metrópole para o ultramar.

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