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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
sofisticado e complexo, veículos automóveis e veículos blindados, material de
transmissões e de comunicações/vigilância/deteção eletrónica, aquele que
efetivamente permitia combater numa guerra convencional moderna.
A carta, que reflete não só a opinião de Salazar, mas a visão que o Estado-
-Maior do Exército e o próprio Santos Costa tinham das capacidades da força
militar portuguesa expressa uma profunda incompreensão do que significava
a guerra moderna tecnológico-económica. Para os portugueses, a capacidade
bélica mede-se por padrões quantitativos alicerçados nos efetivos mobilizados
ou a mobilizar, não nos meios tecnológicos existentes e na capacidade produtiva
tecnológica-industrial. De facto, aquilo que caracteriza a guerra tecnológica
industrial é a quantidade e a qualidade dos meios (materiais), não os efetivos
disponíveis.
Este quadro não acontecia no caso de Portugal, visto a sua população
ser muito reduzida, por muito mobilizada que fosse, e a dimensão espacial do
seu território no continente europeu ser ínfima, como era aliás relevado por
toda a teoria estratégica nacional. Neste sentido, aquilo que faltava, os meios
tecnológicos e mecânicos, era o essencial. A racionalidade demonstrada pelo
texto expressava o facto de os mandos militares portugueses não terem ainda de
todo apreendido o impacto que a revolução tecnológico-económico-estratégica
tinha produzido. Seria o encontro com os parceiros da Aliança Atlântica que
demonstraria quanto era necessário para pôr em condições operacionais uma
força militar e que não bastava contar os efetivos e as armas. Isto também
significa que inicialmente, o projeto “santoscostista” não era considerado
como inviável pelos comandos superiores militares e que seria precisamente o
contacto com os padrões de qualidade militar terrestre definidos pela OTAN e
pelos EUA que geraria o confronto entre as estruturas militares do Exército e a
ótica do Ministro da Defesa Nacional.
Em setembro de 1951, Portugal participa na Conferência de Otawa, que
definiu as responsabilidades e os contributos, que, no prazo de dois anos, cada
país membro da aliança deveria fornecer para a defesa do ocidente. Uns meses
antes, em maio de 1951, um documento, assinado por Santos Costa, assignava
as responsabilidades portuguesas para com a OTAN e o esforço militar a fazer,
tendo em conta uma rápida mobilização: duas divisões de campanha, três
divisões territoriais, seis batalhões de infantaria, 40 batalhões de AA pesada e
40 batalhões de AA ligeira, às quais se agregariam nove esquadrilhas de caça
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