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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
pretendidas com o apoio da aliança. É esta racionalidade que explica que
Portugal apresente à OTAN um plano onde se considerava possível dispor de dez
divisões três meses após o início da conflagração Este-Oeste. A carta enviada
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por Salazar ao Presidente dos EUA e o plano de projeção de forças apresentado
na Conferência de Otawa, não eram um reflexo do momento, uma resposta
fenoménica face ao exterior, mas a expressão de um almejo prosseguido há
muito.
A força referida para o primeiro plano bianual da OTAN aproximava-se
por conseguinte da apresentada pelo EME em 1951. Portugal teria então de
fornecer pelo menos uma divisão mecanizada completa até 1954. A esta
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juntar-se-iam forças ligeiras de segurança e defesa territorial e as três divisões
assignadas ao corpo do exército a enviar para os Pirenéus. As duas divisões a
fornecer à OTAN formariam um corpo de exército que seria adstrito ao exército
dos EUA estacionado no Sul de França. O comando político superior, ou seja,
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Santos Costa, admitia a existência de dois compromissos relativos à utilização da
força militar terrestre, a OTAN e os Pirenéus, sendo que para o primeiro seriam
destinadas as melhores unidades (uma ou duas divisões melhor equipadas), e
100 Costa Gomes refere precisamente que as promessas de Santos Costa de armar 10 divisões para
fornecer à OTAN partiam de uma equação simples, que era o do número de classes passíveis de
mobilização versus a quantidade de material necessário, mas contraria essa afirmação dizendo
que nem uma divisão podíamos fornecer, porque uma divisão não deriva só do número de
homens que se têm, mas dos especialistas que são necessários para pôr em funcionamento essa
força militar. CRUZEIRO, Maria Manuela – Costa Gomes, o último Marechal (entrevista de Maria
Manuela Cruzeiro). 1ª Edição. Lisboa: Editorial Notícias, 1998, pp. 45-46.
101 De facto, objetivamente, visava-se a criação de um corpo de exército a 2 divisões, mais
elementos não endivisionados. Santos Costa procuraria aumentar sempre a participação militar
terrestre portuguesa.
102 MACEDO, 1988, 1º Vol., pp. 27 e 39. A Integração das forças portuguesas no 7º Exército dos
EUA com base no Sul de França teria sido acordada entre Santos Costa e o marechal Montgomery
em 1952, por ocasião da sua visita a Portugal. ANTT – AOS/CO/PC – 78M, Pasta 1, ff. 30-48,
Documento intitulado Sumário da Conversa entre o Marechal Montgomery e o Ministro da Defesa
Nacional com data de 26 de abril de 1952. Sobre os dois compromissos militares terrestres de
Portugal e o prisma do Ministro da Defesa Nacional, segue-se ANTT – AOS/CO/PC- 78M, Pasta
1, Nº 1, Memorando sobre a Conferência de 12 de fevereiro (1952) entre o Ministro da Defesa
Português, o Standing Group, o SHAPE e o SACLANT, com data de 15 de fevereiro de 1952. Neste
texto, o Ministro da Defesa Português deixa bem claro aos representantes da OTAN a existência
de dois compromissos, o da colaboração na defesa do ocidente europeu e o da defesa de um
sector da linha dos Pirenéus em colaboração com a Espanha. O ministro salientava que em caso de
resultado desfavorável para a OTAN da batalha do Sul de França, deveriam as duas divisões lusas
para aí escalonadas serem retiradas para os Pirenéus para colaborarem na defesa dos mesmos. ff.
5-6, pp. 1-2 do referido doc. Era, não obstante preciso que restasse alguma coisa destas.
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