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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            oficiais oriundos da OTAN forneciam eram uma das condições fundamentais para
            a melhoria da eficiência da divisão portuguesa, mas conflituavam não poucas
            vezes com a visão dimanada pelo Ministro da Defesa Nacional, ou seja, de Santos
            Costa. De facto, segundo Ernesto A. L. Ferreira Macedo, o Ministro da Defesa
            Nacional  era  lento  a  aceitar  as  críticas  dos  comandos  militares  diretamente
            ligados ao CE e à divisão OTAN, só as perfilhando quando apoiadas pelos oficiais
            da OTAN/MAAG.  Um dos elementos essenciais da visão dos oficiais da OTAN/
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            MAAG era a opinião de que o esforço militar do Exército Português se devia
            concentrar na melhoria e no aperfeiçoamento da divisão OTAN. 127

                  Esta situação levara ao abandono da ideia de criação de duas divisões de
            tipo-americano em 1953/1954, apesar de como se viu, tal ainda ser apresentado
            à OTAN como objetivo. Em 1954, também se abandonara a designação de divisão
            tipo-americano  e  de  divisão  tipo-português.   Contudo,  não  se  abandonara,
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            pelo menos ao nível do Ministro da Defesa e do Ministério do Exército, a ideia
            de constituir um corpo a três divisões, como segundo escalão, para a defesa
            dos Pirenéus. Sequencialmente, ainda se considerava a possibilidade de numa
            terceira fase se criar uma segunda divisão OTAN e de mais uma divisão para os
            Pirenéus.  Esta situação era paradoxal, e só se explica por voluntarismo político
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            de Santos Costa, na medida, em que como se vem vendo, as dificuldades por


            126  MACEDO, 1988, 2º Vol., p. 89.
            127  MACEDO, 1988, 2º Vol, pp. 84-85.
            128  MACEDO, 1988, 1º Vol., p. 130.
            129  MACEDO, 1988, 1º Vol., pp. 231-232. Saliente-se que os espanhóis criaram algumas dificuldades
            ao transporte por Espanha das forças portuguesas destinadas ao Sul de França, com evidente
            justificação. Salientavam que não fazendo parte da OTAN, o transporte de forças beligerantes pelo
            seu território era um casus belli. Esta situação fora salientada a Salazar na Conferência realizada em
            Ciudad Rodrigo em 14 e 15 de abril de 1952. ANTT – AOS/CO/PC – 78M, Pasta 1 Nº 1, Documento
            intitulado Conferência de Ciudad Rodrigo - Resumo das Conversações Militares datado de 14 e
            15 de abril de 1952, f. 28. Como é lógico, tratava-se mais de uma medida de pressão face a OTAN
            e aos EUA. O objetivo era conseguir um acordo com os EUA ou a OTAN. Esta posição espanhola
            esvaneceu-se a partir dos acordos com os EUA em 1953, visto deixar de ser racional considerando
            a existência de bases norte-americanas em território espanhol. Só em 1957 Portugal assumiria
            “definitivamente na 5ª Conferencia de Estados-Maiores peninsulares (21 a 27 de novembro de
            1957) o compromisso de contribuir para a defesa pirenaica com um CE a 3 divisões de acordo
            com o seguinte escalonamento: 1 CE a 2 divisões, pronto para a defesa do EBRO em D+60 e dos
            Pirenéus em D+90; 1 CE a 3 divisões, pronto para a defesa dos Pirenéus em D+120. As divisões
            portuguesas seriam organizadas e os seus homens instruídos de modo a terem uma eficiência de
            combate semelhante à das forças espanholas e seriam sujeitas, na zona de concentração, a um
            período de aclimatação e treino de operações em montanha da ordem dos 30 dias (D+30 a D+60
            para as duas primeiras divisões e D+90ª D+120 para a 3ª divisão)”, ROCHA, 2013, p. 267.
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