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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)
que passava a constituição da divisão OTAN não tinham sido todas sobrepujadas
em 1957, e debalde os sonhos políticos e estratégicos do Ministro da Defesa e
do Exército, a sua força estar efetivamente reduzida e meia divisão operacional.
A despeito das debilidades da divisão OTAN, o Exército perpassara por
uma reforma profunda que lhe dera uma muito maior operacionalidade e que
seria testada com sucesso, na década de 60, em plena Guerra Colonial. Essa
reforma, pode ser historicamente comparada àquelas por que passara o Exército
Português no tempo de Schomberg, Lippe e Beresford/Wellington. Tal como
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nessas épocas, também a transformação adviera de contactos e de influências
oriundas do exterior, neste caso, das missões MAAG/OTAN e das idas de oficiais
portugueses às escolas de formação e aos exercícios efetuados na Alemanha e
nos EUA. Esta revolução silenciosa, feita em tempo de Guerra Fria (não quente,
como outrora acontecera) merece bem o nome de “revolução serena” dada por
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António Telo.
Conclusão
O recrutamento é uma expressão essencial da organização geral do exército
que por sua vez reflete a perspetiva sobre a guerra a advir. Não é por acaso que
as leis que em 1936 delimitam a nova estrutura do Exército se denominaram de
Organização do Exército (Lei 1960) e de Recrutamento e o Serviço Militar (Lei
1961). O recrutamento era o elemento axial da nova configuração da ideia de
guerra, tal qual os militares e os estrategos portugueses a percebiam.
Com efeito, para o Exército Português, na década de trinta do século XX,
considerando a leitura sobre a experiência da Grande Guerra, e em consequência,
o seu efeito para a defesa nacional, a essência da guerra passava pela conscrição
universal e pelo serviço geral e universal militar, espelho da ideia de que a
guerra futura se apresentaria como um confronto entre vastas massas humanas
mobilizadas. Assim sendo, a mobilização da massa humana válida da nação era
o elemento central da estratégia militar e da estratégia de defesa nacional e esta
configurava-se em termos políticos e organizacionais no serviço militar geral e
universal. Era a “nação em armas”.
130 António Telo propõe igualmente uma similitude entre os anos 1808-1814 e a década 50 de
integração na OTAN. Em ambos os casos, a influência externa é decisiva, na reestruturação e
aperfeiçoamento da força armada lusa (TELO, 1996, pp. 334-336).
TELO, 1996, p. 199.
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