Page 430 - recrutamento
P. 430

RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            penetração da força militar espanhola, a via de Pontevedra/Orense, visando Porto
            e Fafe pela Portela do Homem e do Lindoso, a via de Salamanca, visando Coimbra
            pelo Vale do Mondego, a via de Cáceres, visando Lisboa, pelo Vale do Tejo, Sul da
            Beira e Norte do Alentejo, e a via de Sevilha, por Évora indo até à Península de
            Setúbal e a Lisboa.  As quatros linhas de penetração correspondem de algum
                             42
            modo aos quatro exércitos que a “viagens dos generais” referia em 1933. Um a
            Norte do Douro, outro na Beira Alta, outro na Beira Baixa e outro no Alentejo.
            O problema dos eixos de penetração está intimamente relacionado com o da
            cobertura. Esta devia responder à fase inicial da guerra, advindo dessa situação
            a  necessidade  de  se  dispor  de  uma  força  de  batalha  que  fosse  rapidamente
            mobilizável. Tinha-se de criar um exército que tivesse a força militar suficiente
            para cobrir o país de modo a assegurar a mobilização demográfica de todos os
            recursos nacionais, protegendo além disso a sua concentração.
                  Entretanto, em 1934 realizara-se o primeiro congresso da União Nacional.
            Neste foram efetuadas algumas comunicações sobre a reorganização da força
            militar portuguesa por dois indivíduos que teriam nos anos subsequentes um
            papel importante no comando do Exército e no controlo salazarista do mesmo.
            Os textos permitem-nos verificar até que ponto a sua ótica da força militar era
            coincidente com a visão geral que então o Exército tinha da forma como se
            devia defender a nação. Não deixa de ser sintomático que o texto de Fernando
            Santos Costa comece por salientar a possibilidade de a Espanha poder armar
            1.000.000  de  homens.   Ora,  como  se  pode  ver,  desde  logo,  o  problema
                                  43
            que  F.  Santos  Costa  revela  é  a  da  necessidade  de  responder  à  mobilização
            demográfica  adversária  com  a  mobilização  demográfica  nacional,  estando-
            -se perante uma polarização da estratégia com ação e a contra-acção a níveis
            simétricos. A réplica à ameaça espanhola impõe a existência de dois elementos
            de defesa militar a dois níveis. Um núcleo armado de cobertura das fronteiras
            e “a garantia que toda a massa válida da nação está apta a pegar em armas e
            a entrar em campanha o mais rapidamente possível”.  Não se pode ser mais
                                                             44
            concreto e mais explícito. Também para F. Santos Costa, o problema militar
            resume-se à necessidade de dinamizar a massa válida da nação. Como já dizia

               AHM – Assuntos Militares Gerais, 3º Divisão, 1º Secção, Caixa 51, Nº 34, “Linhas de invasão mais
            42
            prováveis do exército inimigo e aquelas por onde canalizará a sua massa principal de invasão.”
            43  COSTA, Fernando Santos – Algumas considerações relativas à organização do Exército. In 1º
            Congresso da União Nacional. Lisboa, 1935, p. 143.
               COSTA, 1935, p. 145.
            44
              418
   425   426   427   428   429   430   431   432   433   434   435