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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
penetração da força militar espanhola, a via de Pontevedra/Orense, visando Porto
e Fafe pela Portela do Homem e do Lindoso, a via de Salamanca, visando Coimbra
pelo Vale do Mondego, a via de Cáceres, visando Lisboa, pelo Vale do Tejo, Sul da
Beira e Norte do Alentejo, e a via de Sevilha, por Évora indo até à Península de
Setúbal e a Lisboa. As quatros linhas de penetração correspondem de algum
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modo aos quatro exércitos que a “viagens dos generais” referia em 1933. Um a
Norte do Douro, outro na Beira Alta, outro na Beira Baixa e outro no Alentejo.
O problema dos eixos de penetração está intimamente relacionado com o da
cobertura. Esta devia responder à fase inicial da guerra, advindo dessa situação
a necessidade de se dispor de uma força de batalha que fosse rapidamente
mobilizável. Tinha-se de criar um exército que tivesse a força militar suficiente
para cobrir o país de modo a assegurar a mobilização demográfica de todos os
recursos nacionais, protegendo além disso a sua concentração.
Entretanto, em 1934 realizara-se o primeiro congresso da União Nacional.
Neste foram efetuadas algumas comunicações sobre a reorganização da força
militar portuguesa por dois indivíduos que teriam nos anos subsequentes um
papel importante no comando do Exército e no controlo salazarista do mesmo.
Os textos permitem-nos verificar até que ponto a sua ótica da força militar era
coincidente com a visão geral que então o Exército tinha da forma como se
devia defender a nação. Não deixa de ser sintomático que o texto de Fernando
Santos Costa comece por salientar a possibilidade de a Espanha poder armar
1.000.000 de homens. Ora, como se pode ver, desde logo, o problema
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que F. Santos Costa revela é a da necessidade de responder à mobilização
demográfica adversária com a mobilização demográfica nacional, estando-
-se perante uma polarização da estratégia com ação e a contra-acção a níveis
simétricos. A réplica à ameaça espanhola impõe a existência de dois elementos
de defesa militar a dois níveis. Um núcleo armado de cobertura das fronteiras
e “a garantia que toda a massa válida da nação está apta a pegar em armas e
a entrar em campanha o mais rapidamente possível”. Não se pode ser mais
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concreto e mais explícito. Também para F. Santos Costa, o problema militar
resume-se à necessidade de dinamizar a massa válida da nação. Como já dizia
AHM – Assuntos Militares Gerais, 3º Divisão, 1º Secção, Caixa 51, Nº 34, “Linhas de invasão mais
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prováveis do exército inimigo e aquelas por onde canalizará a sua massa principal de invasão.”
43 COSTA, Fernando Santos – Algumas considerações relativas à organização do Exército. In 1º
Congresso da União Nacional. Lisboa, 1935, p. 143.
COSTA, 1935, p. 145.
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