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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)
realidade material da força militar, e considerava a necessidade de despender
cerca de 562.620.000$00 em seis anos. Não se tratava contudo de equipar o
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Exército com todo o material de que precisava para se rearmar, mas assegurar
só o mais urgente, visando garantir a instrução do serviço militar obrigatório
e dispor uma força mínima de cobertura da ordem de uma divisão com mais
alguns batalhões de caçadores. Assim, a infantaria devia adquirir uma nova
espingarda, de preferência de calibre 7,7mm, por ser este o calibre utilizado
no exército britânico, quer através da aquisição de mais armas oriundas da
Grã-Bretanha, quer por via da adaptação das mausers nacionais, sendo esta a
solução aconselhada no relatório, requerendo-se 30.000 espingardas em dois
anos. É ainda referida a necessidade de completar o número de metralhadoras
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pesadas e ligeiras (aquisição de cerca de 300 armas) e de morteiros (só
existiam 12 armas). Avisa-se por fim da inexistência de qualquer engenho
de acompanhamento da infantaria, pelo que é indispensável adquirir 156
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morteiros e 78 canhões.
Refira-se que a aquisição de todo este arsenal visava unicamente garantir
a instrução e o equipamento para as unidades já existentes, não se visando
ainda armar a reserva demográfica. Como é observado para as metralhadoras,
a dotação requisitada é a mínima indispensável para a instrução. Do mesmo
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modo, também a informação sobre a cavalaria visaria nesta fase tão só o
rearmamento indispensável à instrução. As exigências eram bem menores,
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mas refletem bem os limitados objetivos deste grande relatório. Em seis anos
27 AHM – Fundo Tasso de Miranda Cabral, 26ª Divisão, 5ª Secção, Caixa 331, nº 89, 1931, Relatório
da Comissão encarregada de proceder ao estudo do rearmamento progressivo do exército,
introdução, pp. 15-16. Curiosamente, apesar de ter a chancela de confidencial o relatório teria sido
imprenso na Imprensa Nacional visto a capa o referir. Este quantitativo considera tão só os custos
mínimos para arma de artilharia, cerca de 169.000.000$00, quando os responsáveis por esta diziam
ser imprescindível para um eficaz rearmamento cerca de 350.000.000$00. Idem, pp. 15 e 78.
28 Idem, relatório da infantaria, documento Nº 1, pp. 18-20.
29 Os engenhos de acompanhamento da infantaria eram canhões ligeiros de pequeno calibre,
que visavam fornecer apoio imediato às pequenas unidades da infantaria, regra geral ao nível de
batalhão. Era uma arma típica dos exércitos continentais, visto os Estados Unidos da América e a
Grã-Bretanha não os terem desenvolvido. O aperfeiçoamento dos morteiros e o aparecimento dos
mísseis guiados anticarro com fortíssimas cargas explosivas tornaram obsoleto o conceito. HOGG,
Ian – German Artillery of World War II. London, 1997 (1975), p. 18.
30 AHM – Fundo Tasso Miranda Cabral, 26ª Divisão, 5ª Secção, Caixa 331, nº 89, Op. Cit., pp. 21-23.
Idem, ibidem, p. 21.
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Idem, ibidem, relatório da cavalaria, documento Nº 6, p. 61.
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