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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
o seu autor, o General Sebastião Telles). Pelo contrário, era “absolutamente
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necessário” garantir a integridade do território nacional na sua totalidade,
porque a guerra deixara de ser uma luta entre exércitos para passar a ser
entre povos, pelo que o Estado deve mobilizar todos os recursos materiais e
demográficos de que dispõe, enfrentando desde a fronteira o inimigo para os
salvaguardar, e disputando palmo a palmo o território nacional, tendo como
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último reduto o objetivo principal de Portugal, a cidade e o porto de Lisboa.
Segundo o texto, Portugal deveria contar apenas consigo próprio (apesar
da aliança com a Grã-Bretanha). Este elemento tinha, adicionalmente de forma
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implícita, uma evidente importância, visto obrigar a um esforço redobrado na
defesa continental. Portugal estava só, até à chegada num segundo momento
dos reforços britânicos. Combinava-se assim o ideal e a necessidade: defender
o país a partir da fronteira, isto significava que a prioridade da política de
defesa teria de pertencer às forças de terra. Não estando esta ideia explícita
no texto, a sua dedução lógica é implícita. Mas continua “o plano Morais
Sarmento” afirmando que o estado do Exército para a defesa nacional era
nulo, porém, mesmo o exército ideal teria de ser de tipo “miliciano”, visto
que derivado da pouca profundidade do território nacional e da sua extensa
fronteira de 912 quilómetros, era inviável a mobilização num só tempo, sendo
por isso obrigatório o desenvolvimento de uma forte força de cobertura capaz
de proteger o levantamento das reservas e apoiar as operações de guerra
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iniciais.
Tenha-se em consideração que o conceito de “miliciano” deve aqui ser
relativizado. O texto não se refere a um modelo sócio-político-militar, mas
unicamente à ideia de mobilização demográfica, à existência de um exército de
massas no sentido mais estrito do termo. Nada indica no texto que o “modelo
miliciano” se refira a uma força militar assente no povo e na cidadania cívica
emanado do poder político, tal como fora pensada a força militar durante a I
República. Esse modelo era criticado pelo corpo de oficiais porque punha em
causa a sua função profissional e socialmente específica, com toda a valoração
18 AHM – Assuntos Militares Gerais, 3º Divisão, 1º Secção, Caixa Nº 30, Nº 37, Memória sobre a
defesa de Portugal, f. 1.
19 Idem, f. 2-3.
20 Idem, ibidem, f. 4.
Idem, ibidem, f. 6 e 8-9.
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