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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

               nacional,  era difícil pensar a dimensão tecnológica da guerra, pelo que a dimensão
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               demográfica da mobilização da conscrição acaba por ser axial à leitura da defesa
               nacional  e  à  da  prospetiva  da  guerra.  Como  veremos,  mesmo  quando,  em
               consequência da leitura da 2ª Guerra Mundial, a dimensão material se torna mais
               relevante em Portugal, os altos comandos continuaram a dar um elevado valor
               à mobilização demográfica, em boa medida, porquanto era complicado basear
               a edificação de uma força militar alicerçada em uma dimensão que era quase
               inexistente no país: a tecnológico-industrial. Como se verá, pensá-la implicaria
               uma elevada redução das capacidades militares das forças militares portuguesas.

                     Este  texto  alicerça-se  numa  dissertação  de  doutoramento  há  muito
               defendida,  do  qual  se  aproveitaram  alguns  capítulos  distintos.   E  que  não
                                                                          4
               refletem de todo a edificação da política de defesa nacional – a leitura da guerra
               e o planeamento estratégico – tal qual esta aconteceu na terceira década do
               século  XX  em  Portugal,  eivada  de  distintas  perspetivas  do  que  deveria  ser  a
               mobilização demográfica da massa válida da nação, dos recursos que seriam
               necessários  para  armar  a  força  terrestre  e  das  suas  reais  e  não  imaginadas
               possibilidades, debate em certos momentos bastante agreste.
                     Começa-se por apresentar a prospetiva de guerra que o Exército criou no
               período entre-as-guerras, para em seguida refletir sobre o papel do modelo de
               recrutamento que suportava a criação de uma força militar que respondesse às
               ameaças e riscos que o futuro supostamente aportaria. A prospetiva da guerra
               e a lógica de recrutamento que esta delineava levariam a criação efetiva, em
               1936, do serviço universal geral militar para todos os cidadãos portugueses,
               masculinos, com capacidade física e mental para o suportar. Tratava-se daquilo
               que hoje conhecemos como serviço militar obrigatório, que pode ter uma data
               efetiva de início em 1936, e uma final em 2004.  A segunda parte lida como a
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                 ROSAS, Fernando – O Estado Novo (1926-1974). In MATTOSO José (Dir.) – História de Portugal.
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               7º Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994, p. 77.
               4  DUARTE, António Paulo – A Era Santos Costa: Política de Defesa e Estratégia Militar (1919-1958).
               Dissertação de Doutoramento Policopiada. Lisboa: FCSH/UNL, 2005.
               5  A 1ª República tinha de facto já definido em letra de lei e para a organização do exército um serviço
               militar universal, todavia, na verdade, nunca efetivamente implementado. A implementação do
               serviço militar obrigatório só acontece de facto com as leis sobre a organização do exército e
               o recrutamento de 1936. Para uma síntese sobre o que se passou com a 1ª República veja-se
               DUARTE, António Paulo – Serviço Militar Obrigatório e Recrutamento. In ROLLO, Maria Fernanda
               (Coordenação Geral) – Dicionário de História da I República e do Republicanismo    V
                     Repúblic  (Coleç  Parlament        785-790.
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