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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

                     O velho princípio da concentração única é abandonado em prol do moderno
               paradigma de concentrações múltiplas, mas conjugadas, sendo importantíssimo
               a cobertura nos diversos teatros de operações. A mobilização seria efetuada em
               três fases, estando a primeira fase (exército de cobertura) pronta logo ao quarto
               dia, com os segundos e terceiros escalões mobilizados e concentrados ao fim de
               quinze dias.  Tasso não refere o número de efetivos ou divisões que permitiam
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               aplicar  na  prática  este  plano.  Porém,  outro  texto  referente  as  denominadas
               “viagens dos generais”, viagens de aplicação efetuadas pelo Estado-Maior do
               Exército com vista ao estudo in loco dos diversos teatros de operações, menciona
               a criação quatro exércitos com cerca de catorze divisões, cinco brigadas e seis
               corpos de exército, incluindo um de cavalaria. Seriam criados os exércitos do
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               Norte (I), Beira Alta (II), Beira Baixa (III) e Alentejo (IV).
                     Em 1933, um texto igualmente oriundo da 2ª Repartição do EME salientava,
               por sua vez, a necessidade de as unidades de cobertura estarem dotadas a 66%
               dos  efetivos  totais  e  a  100%  do  material.  Estas  unidades  seriam  compostas
               por batalhões de caçadores, apoiados por grupos destacados dos regimentos
               de artilharia ligeira.  O Coronel Ernesto Machado observava, em 1934, que as
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               necessidades da cobertura demandavam 41 batalhões, equivalendo a quatro
               divisões, 25% do potencial mobilizável, que em caso de guerra, seria composto
               por  16  divisões.  A  cobertura  teria  de  estar  a  66%  dos  efetivos  e  a  100%  do
               material e seria a base do plano de reorganização e de rearmamento do Exército.
               O estudo também salientava que se não se pudesse armar completamente as
               forças de cobertura, se começasse por equipar os batalhões de caçadores e os
               regimentos de artilharia ligeira existentes, apesar destes só garantirem a defesa
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               face a elementos ligeiros.
                     Estes estudos procuravam também responder àquilo a que se considerava
               ser a ameaça espanhola. Em 1935, o Coronel Ernesto Machado apresentava os
               possíveis eixos de ataque do exército espanhol em caso de guerra. Tendo em
               conta os centros de concentração espanhóis, o autor relevava quatros eixos de

               38  Idem, ibidem, pontos 6 e seguintes.
               39  AHM – Fundo Tasso de Miranda Cabral, 26ª Divisão, 2ª Secção, Caixa 330, Nº 57. O texto é
               emanado da 2ª Repartição do EME, e a viagem é referida ao DL 16.407, nº 5 do artº 37.
               40  AHM – Assuntos Militares Gerais, 3º Divisão, 1º Secção, Caixa 20, Nº 5, janeiro de 1933.
                 AHM – Assuntos Militares Gerais, 3º Divisão, 1º Secção, Caixa 20, Nº 13, texto datado de 31
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               de dezembro de 1934. Documento intitulado Estudo VII – Fixação da Cobertura, oriundo da 2º
               Repartição do EME.
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