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A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E OS NOVOS DESAFIOS DA GESTÃO DE CARREIRA
DESAFIOS
Sampson, Kettunen e Vuorinen (2019), baseando-se numa análise cuidada
da literatura, elencam um conjunto de ameaças relativas ao uso das tecno-
logias da informação e comunicação nas intervenções de carreira. Entre
estas ameaças ou desafios podemos, por exemplo, ressaltar as que se rela-
cionam com a qualidade da informação e avaliação que algumas respostas
tecnológicas oferecem. Com efeito, estas respostas tecnológicas, muitas
vezes materializadas em plataformas ou sites, devem conter informação
atualizada, permanentemente revista e baseada em fontes fidedignas. Isto
nem sempre é fácil de garantir, devido à mudança acelerada dos contextos
e condições dos contextos de realização dos indivíduos (oferta formativa,
educativa, de emprego ou condições legais de acessibilidade aos mesmos).
A qualidade da informação também pode ser afetada pela forma como é co-
municada, introduzindo viés ou não proporcionando fontes que permitam
perceber a origem dos dados apresentados, podendo favorecer o desenvol-
vimento de mitos e estereótipos de carreira (Osborn et al., 2011; Sampson
et al., 2018).
Por outro lado, no que diz respeito à avaliação psicológica de Carreira,
as evidências da confiabilidade e validade das avaliações de carreira admi-
nistradas online são ainda inconsistentes (Barak, 2003; Gore & Leuwerke,
2008; Offer & Sampson, 1999; Osborn et al., 2011; Sampson & Bloom, 2001;
Sampson et al., 2013a,b) o que coloca reservas e cuidados particulares no
seu uso, e sobretudo com a sua divulgação, em meios de comunicação e
tecnologia que podem estar ao acesso de todos. Para além disso, mesmo
que a medida esteja validada, por vezes, as interpretações online e automa-
tizadas dessa avaliação, não são adequadas e ajustadas às populações alvo
(Oliver & Zack, 1999; Sampson et al., 2003) podendo mesmo prejudicar os
utilizadores.
Relacionado com este desafio, temos também as questões relacionadas
com as competências dos profissionais para o uso das tecnologias. Neste
domínio Kettunen e Sampson (2018) concluem que as competências inade-
quadas dos profissionais são um problema na prestação de intervenções de
carreira baseadas em Tecnologias da Informação e Comunicação. Em ter-
mos de aconselhamento a distância, Richards e Vigano (2013) observaram
uma variação considerável na acreditação dos profissionais que prestam
aconselhamento online. Observou-se ainda que as credenciais dos profis-
sionais para serviços online são muitas vezes vagas ou inexistentes (Osborn
et al., 2011; Richards & Vigano, 2013). No mesmo sentido, a baixa prontidão
de carreira de muitos clientes, e muitas vezes, escassez de competências
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