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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            incomensurável  exponenciada  pelo  deflagrar  da  mais  violenta  e  mortífera
            guerra  alguma  vez  realizada  até  então,  tornou  as  duas  primeiras  décadas
            irreversivelmente  estruturantes  do  Portugal  que  se  seguiu.  Uma  vez  mais,  o
            Exército foi protagonista e espectador destes eventos.
                  O  recrutamento  e  a  mobilização  são  os  processos  pelos  quais  os
            exércitos crescem e se constituem para a guerra e por isso não deixam de ser
            característicos da sua identidade. A forma como se selecionam os mancebos,
            desde  as  entidades  estatais  participantes  no  processo  de  recenseamento,
            passando pela forma como no fim da linha era decidido quem ingressava no
            exército,  por  quanto  tempo  e  em  que  circunstâncias,  definiam  o  modelo  de
            prestação do serviço militar que, não só na época em investigação como nos
            dias de hoje, constituem características políticas dos regimes e de como são
            percecionados quer pelos seus pares, quando se trata de aliados, quer pelos
            seus potenciais ou arqui-inimigos, às vezes apenas vizinhos, que monitorizam e
            acompanham todas as atividades.
                  Em 1907 o General Moraes Sarmento  referia que “o recrutamento dos
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            homens é o primeiro ato, e o mais importante, da constituição do poder militar,
            porque tal será o exército e a guerra que ele empreenda, quais os homens de que
            se componha. Ninguém pode negar a importância dos planos de organização, dos
            armamentos e das fortificações; mas ninguém deve esquecer que o homem é o
            fundamento de tudo, e, consequentemente, o recrutamento a base primordial

            do poder militar dos Estados.”
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                  Encarámos o recrutamento como o conjunto de disposições e atividades
            com as quais se materializa, não só o ato de recrutar os cidadãos que devem
            prestar o serviço militar, como também a sua escolha e o estabelecimento das
            obrigações militares a que devem ficar sujeitos. Visa assim permitir, neste caso ao
            Exército, o maior e melhor aproveitamento do elemento humano, não só para fins
            de instrução como de prestação de serviço em tempo de paz, e de mobilização
            em tempo de guerra. Por esta razão, o recrutamento não pode ser dissociado dos
            modelos de instrução para formação dos recrutas nem da organização dos exércitos
            ativos e das suas reservas, nomeadamente na dispersão e implantação territorial

              Oficial General do Exército Português (1843-1930). Foi Comandante da Escola do Exército pelo
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            Governo Provisório do regime republicano. Como político fez parte do Partido Regenerador sendo
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              SARMENTO, Moraes – Defeza Nacional. Guerras Nacionaes: Nações Armadas. Revista Militar,
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            LIX:5 (1907), 350.
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