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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
verdadeiro teste. Não se tratou apenas dos imensos efetivos necessários para o
seu levantamento e manutenção na frente de batalha, a falta da compreensão
popular à beligerância e a demanda de uma instrução militar capaz de garantir
uma participação entre iguais na mais tecnológica e destruidora guerra até ao
momento trouxe desafios apenas superáveis com o apoio total e em todas as
dimensões do mais antigo aliado, o Reino Unido.
Neste período a sociedade europeia era dominada por um clima cultural
sem precedentes, em que se aceitava o direito do estado a convocar todo e
qualquer individuo do sexo masculino para prestar serviço militar, bem como o
dever deste ultimo em cumpri-lo, um clima em que o desempenho do serviço
militar era visto como um exercício necessário das virtudes cívicas e em que
a tradicional distinção social entre o guerreiro – como um homem colocado
à parte fosse por classe ou falta dela – e o resto dos homens era vista como
um preconceito retrógrado . A participação de Portugal na Frente Ocidental
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com uma unidade de escalão Divisão que veio a crescer para Corpo de Exército
constituiu um esforço ímpar para o país em termos de mobilização de militares
e recursos obrigando a um esforço legislativo especifico orientado para cumprir
com as obrigações decorrentes dos objetivos políticos assumidos pela então
governação .
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As quatro classes mobilizadas durante a vigência da lei de 1911 (1912 a
1915) representavam cerca de 60 mil homens com a recruta completa. A esses
havia a acrescentar cerca de 70 mil homens que tinham feito a recruta antes
da lei de 1911, num total de 130 mil homens, que eram a primeira classe de
mobilização (menos de 30 anos). Seria destes 130 mil portugueses que saíram a
maioria dos combatentes da Grande Guerra .
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Foi, pois, sobre parte deste volume de portugueses que residiu o esforço
na Frente Ocidental, sem que o regime conseguisse criar e manter um sistema de
roulement, ou seja, de sustentação de unidades em França através da rendição
do seu pessoal ou de unidades completas. O esforço de guerra na Europa foi
garantido por aqueles que tiveram o infortúnio de se constituírem nas primeiras
classes de mobilização.
82 KEEGAN, John – Uma história da guerra. Lisboa : tinta da china, 2006, pp. 464–465).
83 Sobre esta matéria ver FRAGA, 1996.
84 TELO, António José; SOUSA, Pedro Marquês De – O CEP. Os militares sacrificados pela má
política. Porto: Fronteira do Caos, 2016, p. 142.
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