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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249
para o Entre-Douro-e-Minho e Trás-os-Montes, tendo estimado um total de
cerca de doze mil casais no total das paróquias a norte do Douro em 1220 .
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Trata-se de um valor de trabalho que não resolve muitas das questões que
se colocam, nomeadamente o número de homens que cada casal forneceria
(estima-se que um, mas podiam ser mais, sendo variável), a impossibilidade de
mobilização total e simultânea e a diferença de densidades populacionais para
regiões não contabilizadas (mas estimadas pelo autor).
Portanto, verifica-se, que, embora houvesse mesmo doze milhares de
casais e que cada um contribuísse com um guerreiro, muito dificilmente se
conseguiria uma hoste com doze mil homens a norte do Douro. As Inquirições
mostram-nos uma realidade em que só parte dos casais de uma freguesia
contribuía com combatentes. Por exemplo, dos 23 casais da freguesia de Santa
Maria de Sardoura (c. Castelo de Paiva), assinalados nas Inquirições de 1258 (11
casais reguengos e 12 dependentes de senhores nobres), o rei só podia contar
diretamente com os seus 11 e desses, só nove iam em hoste e anúduva .
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Utilizando o racional de cinco habitantes por casal 139 , é razoável admitir que só
um estaria disponível para a guerra, possivelmente o chefe de família. No fim
das contas, em 23 casais o rei só podia contar com 9 guerreiros e isto se todos
comparecessem quando chamados.
Durante a Reconquista as lógicas e proporcionalidade de efetivos possíveis
de mobilizar não parecem ter sofrido alterações. Numa inquirição à Terra de
Viseu, ordenada por D. Teresa e Fernão Peres de Trava, de 1127, verificamos,
numa estimativa grosseira, mas ainda assim expressiva, que o tenente de Viseu,
se quisesse e/ou conseguisse mobilizar todos os moradores com obrigações
militares, far-se-ia acompanhar por cerca de 30 cavaleiros e de mais de 200
peões . Quase um século depois, em 1220, na Terra de Aguiar da Pena (c. Vila
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Pouca de Aguiar), o tenente conseguia mobilizar algumas dezenas de cavaleiros
e 120 a 150 peões .
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137 VEIGA, 1936, pp. 195-198.
138 (PMH-I-I, p. 422).
139 Estabelecido por Avelino Jesus da Costa (O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de
Braga, vol I. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1959, p. 231) e seguido por José Mattoso (1995,
p.15) e Maria Helena da Cruz Coelho – A Estruturação Social. In Nova História de Portugal, Vol. III,
Portugal em definição de fronteiras: do Condado Portucalense à crise do Século XIV. Dir. de Joel
Serrão e A.H. de Oliveira Marques. Lisboa: Editorial Presença, pp. 165-383, 1996, p. 170.
140 DR74, p. 95.
VEIGA, 1936, p. 191.
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