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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
a região de Sanlúcar, perto de Sevilha, com um efetivo de mil cavaleiros e mil
peões, regressando às linhas cristãs com bastantes cativos 115 . Entre 1137 e 1226,
as fontes cristãs e muçulmanas assinalam uma dezena de operações de grande
envergadura levadas a cabo em autonomia por municípios portugueses.
Para além das grandes operações de que temos registo, muitos
municípios desenvolviam guerra por conta própria, em expedições de saque
que, normalmente, ocorriam em maio . Tratava-se da maior fatia da guerra
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medieval em Portugal. Era uma forma de vida – a obtenção de proventos de
guerra – que conheceu o seu ocaso com o fim da Reconquista, tendo-se os
cavaleiros-vilãos transformado nos homens-bons dos concelhos.
As milícias municipais eram enquadradas pelo alcaide no caso do
fossado anual devido ao rei (e do qual o monarca recebia, por norma, um
quinto do saque) e também em caso de necessidade de defesa do castelo.
Mas as outras operações, a cargo do concelho, eram comandadas pelo adail.
Quando chamados a comparecer na hoste, os cavaleiros e peões dos concelhos
eram também conduzidos pelo alcaide ou pelo juiz, como no caso do concelho
de Lamego .
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A elite e corpo principal das milícias concelhias eram os cavaleiros-vilãos.
Estes também dispunham de escudeiros a cavalo, tal como os seus congéneres
nobres . À força juntava-se já um efetivo de besteiros, que ainda não pertenciam
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a um “conto” ou arrolamento geral no reino, como viria a ocorrer em finais do
século XIII 119 . Constituíam uma espécie de categoria social intermédia, acima
dos peões, mas abaixo dos cavaleiros-vilãos. Aceder a este estatuto deveria
requerer provas de perícia com a arma, competindo ao alcaide assegurar em
permanência um número estável de besteiros .
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115 IBN ‘IDARI – Al-Bayān al-Mugrib fi Ijitisār Ajbār Muluk al-Andalus Wa al-Magrib – Los
Almohades, Tomo I. Ed. Ambrosio Huici Miranda. Tetuan: Editora Marroqui, 1955, p. 41. Talvez
algumas das expedições atribuídas pelos cronistas muçulmanos aos cavaleiros de Santarém
tenham sido protagonizados por milícias de outras proveniências, mas como na região daquela
vila havia uma grande concentração de vaus, constituindo-se ponto de travessia privilegiado das
milícias cristãs, é à milícia escalabitana que cabem muitas das referências textuais.
116 PMH-LC-I, p. 371.
117 PMH-I-I, p. 1033b.
118 MATTOSO, 1999, pp. 373-374.
119 A primeira referência à existência de um conto de besteiros é de 1299 (Martins, 2007, pp.
157-159).
120 PMH-LC-II, p. 48.
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