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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            militar. Em Mós (c. Freixo de Espada-à-Cinta), em 1162, D. Afonso Henriques
            mandou dar armas a cavaleiros e peões para que defendessem o castelo .
                                                                                 126
            Três décadas antes, em Numão, Fernão Mendes de Bragança também se tinha
            comprometido a atribuir armas aos moradores .
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                  Nos julgados que não estavam organizados por municípios (que tinham
            grande dispersão populacional em espaços rurais, não havendo vilas), um juiz
            desempenhava  um  papel  militar  análogo  ao  do  alcaide  nos  municípios.  Na
            freguesia  de  Rossas  (Ovadas,  c.  Resende),  o  serviço  anual  devido  ao  rei  era
            efetuado de acordo com o determinado pelo juiz . Em Aguiar da Pena, competia
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            a este magistrado assegurar a anúduva anual ao castelo . Outras obrigações,
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            como a fossadeira, também podiam estar sob a alçada do juiz, que estabelecia o
            quantitativo a pagar, como se verifica nas Inquirições de 1220, em São Salvador
            de Reguela, Penafiel de Bastuço (c. Braga) .
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                  Forças conjunturais
                  Para além das comunidades subordinadas ao poder régio ou a um outro poder
            cristão, existiam forças que, ocasionalmente, operavam em cooperação, e por vezes
            mesmo integrados, na hoste régia. Podemos identificar três proveniências principais
            de contingentes: voluntários estrangeiros que permaneciam junto do monarca com
            um propósito de cruzada, bandos de salteadores e gentes de fronteira e, por fim,
            mercenários muçulmanos.
                  Quanto  ao  primeiro  grupo,  importa  referir  que  não  se  consideram  os
            contingentes cruzados que, no seu trânsito para a Terra Santa estanciaram no
            reino  e colaboraram  com  os  monarcas  portugueses  num  contexto  de  guerra
            santa. Apesar de terem intervindo em território português e a eles se dever parte
            do sucesso das conquistas de Lisboa (1147), Silves (1189) ou Alcácer (1217), não
            integraram a hoste régia, tendo operado sob comando dos seus líderes francos.
            As referências narrativas a uma submissão direta ao rei português são tardias,
            provenientes do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, de meados do século



            126  PMH-LC-I, p. 391 de 1162, dezembro.
            127  PMH-LC-I, p. 370 de 1130, junho, 25.
            128  PMH-I-I, p. 988a.
            129  PMH-I-I, p. 1366a.
            130  PMH-I-I, p 86a.
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