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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            contexto de guerra ou de simples migração, até porque em 1199, D. Sancho
            I  passou  uma  carta  patente  aos  pretores  e  aos  alvazis  de  Santarém  para
            escolherem  e  demarcarem  terras  para  colonos  francos  recém-chegados,  não
            fazendo  nenhuma  referência  direta  a  serviços  militares  por  eles  prestados.
            No  entanto,  o  documento  apresenta  um  indício  sugestivo,  mencionando
            um  Dom  Guilherme,  “anterior  deão  de  Silves  e  os  seus  companheiros”
            que,  esse  sim,  pode  ter  sido  um  cruzado  estrangeiro  que  se  tenha  fixado
            no  contexto  da  conquista  efémera  daquela  cidade,  entre  1189  e  1191 .
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                  Nas  regiões  de  fronteira  proliferavam  bandos  de  ladrões,  havendo
            vestígios destes grupos nas fontes. Quando os bandos passavam de simples
            salteadores  locais  a  contingentes  capazes  de  conduzir  a  guerra  a  par  dos
            outros poderes constituídos, passavam a ter relevância militar. É o caso do
            bando de Geraldo “Sem Pavor” e de outros grupos que beneficiaram do apoio
            e até integração por parte dos monarcas .
                                                 135
                  Quanto ao último tipo de contingentes, conhecemos, pelo menos, um
            grupo de guerreiros muçulmanos que serviu D. Fernando, infante de Serpa, em
            1234. No contexto de uma querela com o bispo de Lisboa, João Rol, o infante
            empregou-os para invadirem a igreja onde o prelado se tinha refugiado . Não
                                                                             136
            temos conhecimento explícito que outros grupos tenham tomado parte em
            operações em conjunto com poderes cristãos portugueses ou até mesmo com
            a hoste régia, mas a situação não é inédita nos reinos ibéricos, pelo que é de
            admitir que tivesse ocorrido mais vezes em Portugal.



                  5. os efetivos mobilizáveis e a sua manutenção
                  As  fontes  são  pouco  claras  em  relação  aos  efetivos  mobilizáveis
            fornecendo,  normalmente,  números  inverosímeis,  destinados  a  cumprir  os
            propósitos propagandísticos dos seus redatores. Costa Veiga estudou o assunto

               DS 116 de 1199, maio, 28.
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            135  Geraldo começa a ser referido na redação cronística de Santa Cruz, pouco tempo depois da
            morte de D. Afonso Henriques, a propósito da tomada de Évora (ADA, p. 158). As fontes muçulmanas
            também se referem ao grupo de Geraldo, nomeadamente Ibn Sahib al-Sala, contemporâneo do
            caudilho e a quem este capturou um irmão (Ibn Sāhib al-Salā, 1969, pp. 137-138 e 150). IBN SĀHIB
            AL-SALĀ – Al-Mann Bil-Imāma. Estudo preliminar, tradução e índices por Ambrosio Huici Miranda.
            Valencia: 1969, pp. 137-138 e 150).
            136  MARTINS, Miguel – Guerreiros Medievais Portugueses: de Geraldo, o Sem-Pavor, ao conde de
            Avranches. Treze biografias de grandes senhores da guerra (séculos XII-XV). Lisboa: A Esfera dos
            Livros, 2013, pp. 70-71.

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