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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

                     As ordens militares, ainda que com efetivos muito menores do que os
               restantes  grupos  constituintes  da  hoste,  demarcavam-se  pela  superioridade
               qualitativa  e  pela  prontidão  permanente.  Não  abundam  as  referências  à
               integração  na  hoste  régia  de  forças  provenientes  das  ordens,  sendo  mais
               frequente  encontrá-las  a  realizar  operações  em  autonomia,  cujo  resultado
               acabava por se coadunar com os objetivos da Coroa. Esta constatação deve-se ao
               costume, entrecortado por raras exceções, do rei doar às milícias as conquistas
               que  elas  próprias  tinham  efetuado.  Embora  possam  ser  alvo  de  debate  as
               possibilidades de o rei proceder de modo diferente, a imagem final é de um
               alinhamento entre o monarca e as ordens militares.
                     Sendo o serviço extensivo a quase todos os homens livres, dos 16 aos
               60 anos, independentemente da intervenção direta do monarca, a organização
               social permitia que cada um, ao seu nível, soubesse exatamente qual o seu papel
               militar. O modelo foi nitidamente funcional enquanto em Portugal pôde vigorar
               um sistema baseado na guerra de fronteira. Com a conquista de Faro, em 1249,
               muitas  facetas  desta  organização  deixaram  de  ter  sentido  material,  embora
               até muito tarde, mesmo já na década de 1270, houvesse textos de forais que
               continuavam a destacar o papel militar dos cavaleiros-vilãos, numa altura em
               que já começavam a ser designados por homens-bons e a dedicar-se a outras
               atividades rentáveis do ponto de vista económico .
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               152  AGUIAR, 2015, p. 4. Veja-se, por exemplo, o foral de Castro Marim (PMH-LC-I, pp. 734-735 de
               1277, julho, 8).
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