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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
Em todo o seu reinado, o maior efetivo que D. Afonso Henriques conseguiu
reunir parece ter sido na operação para a tomada de Lisboa, em 1147, estimando-
-se a presença de 3000 portugueses , entre eles, as mesnadas senhoriais e
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milícias concelhias. Mas este número deve ser visto como uma exceção, de tal
modo que, durante o cerco, o rei teve de dispensar parte dos efetivos .
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Importa ter em consideração que estamos a trabalhar sobre modelos
teóricos de mobilização, ou seja, falamos de efetivos mobilizáveis e não
mobilizados. Havia sempre quem não estivesse em casa, quem preferisse remir
a falta ao serviço com o pagamento da fossadeira, ou, simplesmente, quem não
estivesse obrigado a ir na hoste.
Como a maioria dos combatentes eram camponeses ou senhores que
necessitavam do trabalho deles nos campos, a disponibilidade para a guerra
estava circunscrita a um período muito curto do ano, condicionado pelas
práticas agrícolas, normalmente de seis a sete semanas. Esta medida temporal
está claramente presente nas Inquirições registadas para a região de Lamego e
Tarouca. No primeiro caso, como já tivemos ocasião de referir, havia populações
que estavam obrigadas a defender os muros do castelo por um prazo máximo
de seis semanas, correspondentes ao tempo que uma operação do alcaide,
acompanhado da guarnição habitual do castelo, podia demorar. No segundo
caso, os moradores das cavalarias régias de Tarouca tinham de acompanhar o
rei com cavalo e armas e permanecer em hoste ou anúduva, igualmente por seis
semanas . Este prazo decorria normalmente entre abril e maio, de modo a que
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os guerreiros estivessem de volta às suas casas em junho, para a ceifa. Tenha-se
presente que o cereal era essencial na vida medieval, uma vez que o pão era o
alimento básico.
A soldada, retribuição pelo serviço militar, era frequentemente
materializada através da doação de terras, já que nos séculos XII e XIII escasseava
a moeda metálica . Este modo de pagamento é particularmente evidente na
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documentação na sequência de campanhas e ações militares. Em 1200, D. Sancho
I doou o reguengo de Silhade (c. Macedo de Cavaleiros) aos moradores de Mós,
142 MARTINS, 2011, p. 83 e 2017, p. 179.
A Conquista de Lisboa aos mouros: relato de um cruzado. Ed., trad. e notas de Aires A.
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Nascimento, com intr. de Maria João Violante Branco. Lisboa: Vega, 2001, p. 111.
144 PMH-I-I, p. 1071a.
145 MARQUES, A.H. de Oliveira – Ideário para uma História Económica de Portugal na Idade Média.
In Ensaios de História Medieval. Lisboa: Vega, 1979, pp. 196-197.
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