Page 51 - recrutamento
P. 51

1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

                     Mas  a  maioria  dos  combatentes  disponíveis  deveria  pertencer  à
               categoria  dos  peões,  distinguindo-se  os  tributários  dos  dependentes.  Os
               primeiros tinham a possibilidade de ascender à categoria de cavaleiros desde
               que tivessem cavalo e armas. Facultativa nalguns municípios, esta ascensão
               era obrigatória na maioria, dependendo da quantidade de bens possuída  121 .
               Os peões jugários, ou jugueiros, eram dependentes dos cavaleiros, cultivavam-
               -lhes as propriedades e a eles se sujeitavam, mesmo em assuntos de justiça. E
               justifica a disposição, que encontramos nos foros de Castelo Bom, dos vilãos
               se apresentarem na hoste enquadrando um certo número de peões   122 . Se os
               peões faltassem ao apelido era-lhes imposta uma multa que, normalmente,
               era de cinco soldos, metade da imputada aos cavaleiros.



                     Soluções em regiões de difícil implantação senhorial e municipal
                     Havia regiões de fraca implantação quer senhorial, quer concelhia, mas
               em relação às quais o rei necessitava de garantir capacidade militar, sob pena
               de não as controlar. Nessas áreas mais ermas, em que a fixação de populações
               era difícil, o monarca recorria à concessão de cavalarias régias, préstamos em
               troca de serviço militar pessoal, desempenhado com cavalo e armas .
                                                                             123
                     A região de Penalva do Castelo, na encosta Norte da Serra da Estrela, é
               um exemplo de concentração de cavalarias. O lugar de Carroga, em Sezures (c.
               Penalva do Castelo) constituía uma cavalaria régia, cujos moradores deviam ir
               em hoste e prestar anúduva, além de pagarem os seus impostos ao mordomo
               de Penalva . O mesmo se passava com a paróquia de Pepim (atual Moinhos
                         124
               de Pepim), três cavalarias em Pindo e Oliveira, todos os três fogos de Lamosa
               e todo o lugar de Moita (c. Penalva do Castelo) .
                                                          125
                     O  monarca  ou  o  senhor  também  recorriam  ao  fornecimento  direto
               de  equipamento  bélico,  permitindo  que,  mesmo  em  locais  onde  não  fosse
               fácil manter uma continuada guerra de saque, houvesse alguma capacidade



                  Como afirma Mário Barroca, numa primeira fase, ser-se cavaleiro-vilão constituía um privilégio,
               121
               tendo passado mais tarde a um dever, por via das posses (BARROCA, 2003, p. 91).
               122  PMH-LC-I, p. 765.
                  Quando  concedidas  por  senhores  que  não  o  rei,  tinham  a  designação  de  “cavalarias  de
               123
               herdade” (MATTOSO, 1999, p. 362).
               124  PMH-I-I, p. 802b.
               125  PMH-I-I, p. 803a.
                                                                                   39
   46   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56