Page 48 - recrutamento
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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
para a qual não temos muitas evidências na Península Ibérica, ao contrário do
que acontecia na Terra Santa .
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As ordens militares tinham ao seu alcance, dentro dos seus senhorios,
possibilidades de mobilização semelhantes à do monarca, sendo a principal
fonte de recrutamento os municípios fundados pelas próprias milícias. A
Ordem do Templo, por exemplo, podia contar com os cavaleiros de Tomar
desde 1162 e, a partir de 1174, com Pombal e também da Foz do Zêzere, e
depois de 1213 com Castelo Branco, de 1218 com Proença-a-Velha, de 1220
com Touro e de 1231 com Ega .
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Enquanto na Terra Santa os efetivos das ordens militares rondaram sempre
os 50% do total militar que os Estados Latinos do Oriente conseguiam mobilizar,
na Península Ibérica esta percentagem descia para valores inferiores a 15% . No
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entanto, pela sua qualidade militar e pelo grau de prontidão, eram a força mais
competente na hoste régia. Não é por acaso que nos reinos ibéricos os monarcas
confiaram à sua guarda o seu tesouro , lhes legaram inúmeras riquezas (incluindo
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muito material de guerra) e, frequentemente, lhes atribuíam posições de
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destaque nas hostes quando em ordem de batalha. Foi o caso dos contingentes
das ordens do Templo, Hospital, Santiago e Calatrava que formaram uma única
unidade tática, ao centro, na batalha das Navas de Tolosa, em 1212 .
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Os municípios
O sistema militar cristão da Reconquista foi edificado com base nos
concelhos e nas milícias que estes conseguiam mobilizar, mas como assinala
James Powers, até meados da década de 1980, o papel destas forças tinha
106 RODRÍGUEZ-PICAVEA, 2008, p. 127.
107 PMH-LC-I, pp. 388-389 de 1162; p. 622-623 de 1231, setembro, 1; pp. 398-399 de 1174, junho; pp.
402-403 de 1174, junho; pp. 566-567 de 1213, outubro; pp. 577-579 de 1218, abril; pp. 586-589 de
1220, dezembro, 1. Sobre o património da Ordem do Templo em Portugal, veja-se COSTA, Paula Pinto
– Templários em Portugal. Homens de Religião e de Guerra. Lisboa: Manuscrito, 2019, pp. 185-208.
108 AYALA, 2007, pp. 555-559.
109 No primeiro testamento de D. Sancho I, de 1188, verifica-se que parte do tesouro régio estava
guardado na torre de Coimbra, mas 10 mil morabitinos estavam à guarda dos freires de Évora (DS
30, p. 48).
110 (DR 330 de 1176, abril, 1179, fevereiro); (DS 31 de 1188, março, depois de 24); (DS 194 de
1210, outubro).
GARCÍA FITZ, Francisco – Las Navas de Tolosa. Ed. VIII Centenario. Barcelona: Ariel, p. 505.
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