Page 44 - recrutamento
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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
para combaterem apeados . O foral de Seia, de 1136, previa a possibilidade de
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alguns cavaleiros-vilãos do concelho servirem diretamente o monarca, através do
rico-homem – o tenente – recebendo dele soldada . A vantagem obtida era que
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estes cavaleiros estavam obrigados a mais operações do que o tradicional fossado
de maio, passando a fazer parte da mesnada permanente do rico-homem. A
partir dos forais de Santarém-Lisboa-Coimbra de 1179, este sistema passou a
ser comum, podendo os cavaleiros-vilãos que o desejassem deixar de servir o
rei através do concelho, passando a servi-lo integrados nas mesnadas dos ricos-
homens que comandavam tenências .
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Por tudo isto, o efetivo de vassalos que os ricos-homens conseguiam
mobilizar era bastante variável. Para Castela, no tempo de Afonso X, um
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grande nobre como Nuno de Lara podia convocar cerca de 300 cavaleiros e
sensivelmente pela mesma altura, em 1282, Vasco Martins Pimentel conduziu,
sob as suas ordens, uma mesnada de 250 cavaleiros portugueses que colocou
ao serviço do mesmo monarca castelhano, quando este esteve em guerra contra
o seu filho, o infante D. Sancho . Mas a generalidade dos senhores deveria
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conseguir mobilizar efetivos bem mais modestos, na ordem das escassas
dezenas. A Notícia de Torto revela-nos que em 1210, Lourenço Fernandes da
Cunha armazenava, na torre da sua quintã, equipamento militar suficiente para
40 cavaleiros: “(…) 40 scutos, capellos de ferro e multa alia arma” .
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83 A documentação é, de um modo geral, silenciosa a respeito dos peões das mesnadas senhoriais,
sendo mais fácil detetar referências a peões concelhios do que a dependentes dos senhores
(Gonçalves, 2011, p. 48).
84 PMH-LC-I, p. 371 de 1136, maio.
85 Esta disposição foi replicada em nove cartas, até 1286: Santarém, 1179 (PMH-LC-I, p. 409);
Lisboa, 1179 (PMH-LC-I, p. 413); Coimbra, 1179 (PMH-LC-I, p. 417); Almada, de 1190 (PMH-LC-I, p.
476); Povos, 1195 (PMH-LC-I, p. 492); Leiria, 1195 (PMH-LC-I, p. 497); Torres Vedras, 1250 (PMH-
LC-I, p. 635); Estremoz, 1258 (PMH-LC-I, p. 681); Monzaraz, 1276 (CAIII 639, p. 216).
86 GARCÍA FITZ, Francisco – Ejércitos y actividades guerreras en la Edad Media europea. Madrid:
Arco Libros, 1998, p. 40.
87 Portugaliae Monumenta Historica. Nova Série, Vol. II/1 – Livro de Linhagens do Conde D. Pedro.
Ed. crítica por José Mattoso. Lisboa: 1980, 35A1.
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COSTA, Avelino de Jesus da – Os mais antigos documentos escritos em português. In Estudos
de Cronologia, Diplomática, Paleografia e Histórico-Linguísticos. Porto: Sociedade Portuguesa de
Estudos Medievais, 1992, doc. 5 de 1211-1216.
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