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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            para combaterem apeados . O foral de Seia, de 1136, previa a possibilidade de
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            alguns cavaleiros-vilãos do concelho servirem diretamente o monarca, através do
            rico-homem – o tenente – recebendo dele soldada . A vantagem obtida era que
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            estes cavaleiros estavam obrigados a mais operações do que o tradicional fossado
            de  maio,  passando  a  fazer  parte  da  mesnada  permanente  do  rico-homem.  A
            partir dos forais de Santarém-Lisboa-Coimbra de 1179, este sistema passou a
            ser comum, podendo os cavaleiros-vilãos que o desejassem deixar de servir o
            rei através do concelho, passando a servi-lo integrados nas mesnadas dos ricos-
            homens que comandavam tenências .
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                  Por  tudo  isto,  o  efetivo  de  vassalos  que  os  ricos-homens  conseguiam
            mobilizar  era  bastante  variável.  Para  Castela,  no  tempo  de  Afonso  X,  um
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            grande nobre como Nuno de Lara podia convocar cerca de 300 cavaleiros   e
            sensivelmente pela mesma altura, em 1282, Vasco Martins Pimentel conduziu,
            sob as suas ordens, uma mesnada de 250 cavaleiros portugueses que colocou
            ao serviço do mesmo monarca castelhano, quando este esteve em guerra contra
            o seu filho, o infante D. Sancho . Mas a generalidade dos senhores deveria
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            conseguir  mobilizar  efetivos  bem  mais  modestos,  na  ordem  das  escassas
            dezenas. A Notícia de Torto revela-nos que em 1210, Lourenço Fernandes da
            Cunha armazenava, na torre da sua quintã, equipamento militar suficiente para
            40 cavaleiros: “(…) 40 scutos, capellos de ferro e multa alia arma” .
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            83  A documentação é, de um modo geral, silenciosa a respeito dos peões das mesnadas senhoriais,
            sendo  mais  fácil  detetar  referências  a  peões  concelhios  do  que  a  dependentes  dos  senhores
            (Gonçalves, 2011, p. 48).
            84  PMH-LC-I, p. 371 de 1136, maio.
            85  Esta disposição foi replicada em nove cartas, até 1286: Santarém, 1179 (PMH-LC-I, p. 409);
            Lisboa, 1179 (PMH-LC-I, p. 413); Coimbra, 1179 (PMH-LC-I, p. 417); Almada, de 1190 (PMH-LC-I, p.
            476); Povos, 1195 (PMH-LC-I, p. 492); Leiria, 1195 (PMH-LC-I, p. 497); Torres Vedras, 1250 (PMH-
            LC-I, p. 635); Estremoz, 1258 (PMH-LC-I, p. 681); Monzaraz, 1276 (CAIII 639, p. 216).
            86  GARCÍA FITZ, Francisco – Ejércitos y actividades guerreras en la Edad Media europea. Madrid:
            Arco Libros, 1998, p. 40.
            87  Portugaliae Monumenta Historica. Nova Série, Vol. II/1 – Livro de Linhagens do Conde D. Pedro.
            Ed. crítica por José Mattoso. Lisboa: 1980, 35A1.
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               COSTA, Avelino de Jesus da – Os mais antigos documentos escritos em português. In Estudos
            de Cronologia, Diplomática, Paleografia e Histórico-Linguísticos. Porto: Sociedade Portuguesa de
            Estudos Medievais, 1992, doc. 5 de 1211-1216.

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