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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

               da mesnada régia mas, pelo teor do documento, admitimos a possibilidade de
               já deter responsabilidades sobre um corpo de besteiros mais alargado .
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                     Tal  como  os  restantes  elementos  da  scola,  os  besteiros  deslocavam-se
               montados. Dispomos, por felicidade, do testamento do já aludido anadel, que
               lega, em 1223, à Ordem do Templo, o maior animal que possuir na hora da morte,
               escudo e lança, o que só faz sentido se se tratar de um cavalo, sendo que escudo
               e  lança  são  também  armas  de  combate  montado.  O  testamento  acrescenta
               outras peças, que deveriam fazer parte do equipamento militar de um besteiro
               a cavalo: uma loriga, sapatos de ferro, capelo de ferro, espada, perponto, tenda
               de campanha e duas bestas de corno, com os respetivos carcases (aljavas) de
               ferro, para as setas .
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                     As mesnadas senhoriais
                     Os cavaleiros nobres apresentavam-se na hoste régia, com as mesnadas
               recrutadas nos seus senhorios, servindo a troco de uma remuneração designada
               “soldada” . Como, para além deste pagamento, era o rei que tinha de garantir
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               o sustento destes guerreiros, a presença na hoste era reduzida ao mínimo de
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               tempo necessário, que normalmente não ia além das seis semanas . Esperava-
               -se  que  os  ricos-homens  detentores  de  tenências  mobilizassem  não  só  os
               homens livres dos seus senhorios pessoais, mas também os provenientes da ou
               das terras a seu cargo, o que nem sempre ocorria.
                     Dentro de um senhorio – normalmente uma área rural – o nobre podia dispor
               de alguns elementos da sua linhagem, com bom treino militar, e, possivelmente,
               alguns cavaleiros rústicos, seus dependentes com posses suficientes para adquirir
               e manter cavalo. Em caso de necessidade, podia ainda armar os camponeses




               79  Trata-se de uma carta outorgada a Pedro Pires, “anadel de meis balistariis”, que se destina a
               proteger besteiros retirados e mulheres de antigos besteiros (CAIII, doc. 266, de 1211-1223).
               80  BAIÃO, António – A villa e concelho de Ferreira do Zezere nos seculos XII e XIII. In O Archeo-
               logo Portuguez, Vol. XIII. Ed. J. Leite de Vasconcellos. Lisboa: Imprensa Nacional, pp. 253-270,
               1908, p. 267.
               81  Desde o século IX que o serviço militar da cavalaria nobre dependia de soldadas pagas pelo
               monarca (VEIGA, 1936, pp. VIII-IX), (Porrinas, 2015, p. 498).
               82  É o que depreendemos do que expressa o Regimento da Casa Real de 1258, que, estamos em crer,
               venha regulamentar algumas práticas anteriores (PMH-LC-I, pp. 198-200). No século XIV, seis sema-
               nas continuava a ser o período máximo de pagamento de soldada (MARTINS, 2007, p. 50, n. 174).

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