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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  Sendo  o  cargo  cimeiro  de  projeção  militar,  muitos  alferes,  depois  de
            servirem um rei, chegaram a ocupar o mesmo cargo junto de outro monarca
            ibérico. Mem Fernandes de Bragança, alferes de Afonso Henriques em 1146
            e 1147, foi alferes de Fernando II de Leão logo no início do reinado daquele,
            de 1157 a 1159 ; Pêro Pais da Maia, depois de deixar o cargo junto de Afonso
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            Henriques, em 1169, viria a ser alferes do mesmo rei de Leão ; Martim Vasques
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            de Soverosa, alferes de D. Sancho I entre 1193 e 1197, foi feito prisioneiro
            pelos almóadas em Palência, quando auxiliava o rei leonês, Fernando III, na
            defesa da cidade .
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                  Na  scola  serviam  vários  cavaleiros.  Pelo  menos  até  ao  reinado  de  D.
            Sancho I coexistiram cavaleiros nobres com cavaleiros de origem não-nobre
            (vilãos).  Para  além  dos  já  referidos  oficiais  régios,  também  eram  presença
            constante  os  filhos  segundos  e  os  bastardos  das  principais  linhagens,  bem
            como elementos de linhagens secundárias, cujo serviço na corte lhes permitiu
            ascender na pirâmide social, geração após geração . Foi também por via da
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            pertença à scola que, desde o século XII, muitos cavaleiros-vilãos alcançaram
            as categorias inferiores da nobreza, a ponto de em meados do século XIII as
            suas famílias serem consideradas da aristocracia de pleno direito .
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                  A  scola  também  dispunha  de  besteiros.  Pedro  Ferreiro,  besteiro
            assinalado em 1191 como acompanhando D. Sancho I , continuou a servir o
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            seu filho, D. Afonso II, como seu anadel. Este poderia só comandar os atiradores




            73  GONZALEZ,  Julio  –  Regesta de Fernando II          Investig
            Cientific    Institut  Jer  Zorit      185.
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               MATTOSO, José – A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular. In Naquele Tempo –
            Ensaios de História Medieval. Rio de Mouro: Temas e Debates, pp. 309-330, 2009, p. 318.
            75  KRUS,  Luís  –  A  Concepção  Nobiliárquica  do  Espaço  Ibérico.  Lisboa,  Fundação  Calouste
            Gulbenkian, 1994, p. 60, n. 15.
            76  Veja-se, a este respeito, o caso dos Riba de Vizela. De origens modestas, se comparadas com as
            cinco linhagens mais prestigiadas do reino, protagonizaram um processo de ascensão a partir de
            finais do século XII, tendo atingido o topo da pirâmide nobiliárquica (PIZARRO, Augusto – Linhagens
            Medievais Portuguesas. Genealogias e estratégias (1279-1325), Vol. I. Dissertação de doutoramento
            apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 1997, pp. 531-553.
            77  AGUIAR, Miguel – Chivalry in Medieval Portugal. In E-Journal of Portuguese History, 2015, Vol.
            13, nº2, p. 5 [Consult. 10 de maio de 2020]. Disponível em www.scielo.mec.pt/pdf/ejph/v13n2/
            v13n2a01.pdf.
            78  DS 53 de 1191, julho, 15.
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