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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249
No âmbito das mesnadas senhoriais, há também que considerar as
eclesiásticas . Em 1206, o aforamento de Teixeiras e Souto-Rorigo, por D. Paio,
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bispo de Coimbra, a Paio Alvarinho, é explícito quanto ao facto de os moradores
terem a obrigação de servir o prelado no fossado . Mas o clérigo português
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com mais destaque militar na cronologia em análise talvez tenha sido D. Soeiro
Viegas, bispo de Lisboa que, em 1217, foi figura central na tomada de Alcácer,
figurando a par dos comandantes cruzados e dos mestres das ordens militares
em correspondência trocada com o papa .
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As ordens militares
Tendo entrado em Portugal em 1128, pela mão de D. Teresa, a Ordem do
Templo foi a primeira cavalaria monástica com que o reino contou, pelo menos
até ao surgimento das ordens ibéricas, nas décadas de 1150 a 1170. A Ordem
do Hospital, que teve presença no reino pela mesma altura que os templários,
começou por ser uma ordem assistencial e conheceu uma militarização tardia,
que só teve expressão em Portugal em 1189, aquando da tomada de Silves .
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A invasão almóada da Península a partir de 1146 e a ação militar de
unificação de todo o al-Andalus muçulmano sob o seu califado, levada a cabo a
partir de 1151, foi um dos catalisadores do surgimento, nos reinos ibéricos, de
ordens militares peninsulares, como a Ordem de Calatrava, em 1158 , a Ordem
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de Santiago, em 1170 , a confraria de Évora, da qual resultará a Ordem de Avis,
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89 Sobre a intervenção militar do clero veja-se ARRANZ GUZMÁN, Ana (2012) – Lorigas y Báculos:
la intervención militar de episcopado castellano en las batallas de Alfonso XI. In Revista de Historia
Militar, nº 112, año LVI. Madrid: Instituto de História y Cultura Militar, pp. 11-63.
90 PMH-LC-I, p. 533.
91 Duas cartas estão publicadas em Monumenta Henricina, vol. I, 1960. Lisboa: Comissão Executiva
das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, docs. nº25 e nº26 de 1218.
92 Temos a certeza absoluta que a Ordem do Hospital se encontra militarizada em Portugal em
1194, ano em que D. Sancho I doa àqueles freires a herdade da Guidintesta, vasto território deli-
mitado pelos cursos terminais do Zêzere e do Ocreza, para nele edificarem o castelo de Belver (DS
73 de 1194, junho, 13).
93 Bullarium Ordinis Militiae de Calatrava (BC). Ed. ORTEGA y COTES, Ignacio José. Madrid: Typo-
graphia Antonii Marin, 1761, Scriptura I, de 1158. A primeira regra da Ordem foi promulgada em
1164 (BC, Scriptura IV de 1164, setembro, 14).
94 AYALA, Carlos de – Las órdenes militares hispánicas en la Edad Media (siglos XII-XV). Madrid,
Marcial Pons, 2007, p. 120. A introdução à Regra de Santiago refere, explicitamente, a invasão al-
móada como razão da fundação da Ordem (Regla y Establecimientos, de la Orden y Cavalleria del
Glosioso Apostol Santiago. VILLAFRANCA, P., 1699, p. 79).
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