Page 45 - recrutamento
P. 45

1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

                     No  âmbito  das  mesnadas  senhoriais,  há  também  que  considerar  as
               eclesiásticas . Em 1206, o aforamento de Teixeiras e Souto-Rorigo, por D. Paio,
                          89
               bispo de Coimbra, a Paio Alvarinho, é explícito quanto ao facto de os moradores
               terem a obrigação de servir o prelado no fossado . Mas o clérigo português
                                                             90
               com mais destaque militar na cronologia em análise talvez tenha sido D. Soeiro
               Viegas, bispo de Lisboa que, em 1217, foi figura central na tomada de Alcácer,
               figurando a par dos comandantes cruzados e dos mestres das ordens militares
               em correspondência trocada com o papa .
                                                    91


                     As ordens militares
                     Tendo entrado em Portugal em 1128, pela mão de D. Teresa, a Ordem do
               Templo foi a primeira cavalaria monástica com que o reino contou, pelo menos
               até ao surgimento das ordens ibéricas, nas décadas de 1150 a 1170. A Ordem
               do Hospital, que teve presença no reino pela mesma altura que os templários,
               começou por ser uma ordem assistencial e conheceu uma militarização tardia,
               que só teve expressão em Portugal em 1189, aquando da tomada de Silves .
                                                                                  92
                     A  invasão  almóada  da  Península  a  partir  de  1146  e  a  ação  militar  de
               unificação de todo o al-Andalus muçulmano sob o seu califado, levada a cabo a
               partir de 1151, foi um dos catalisadores do surgimento, nos reinos ibéricos, de
               ordens militares peninsulares, como a Ordem de Calatrava, em 1158 , a Ordem
                                                                            93
               de Santiago, em 1170 , a confraria de Évora, da qual resultará a Ordem de Avis,
                                  94

               89  Sobre a intervenção militar do clero veja-se ARRANZ GUZMÁN, Ana (2012) – Lorigas y Báculos:
               la intervención militar de episcopado castellano en las batallas de Alfonso XI. In Revista de Historia
               Militar, nº 112, año LVI. Madrid: Instituto de História y Cultura Militar, pp. 11-63.
               90  PMH-LC-I, p. 533.
               91  Duas cartas estão publicadas em Monumenta Henricina, vol. I, 1960. Lisboa: Comissão Executiva
               das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, docs. nº25 e nº26 de 1218.
               92  Temos a certeza absoluta que a Ordem do Hospital se encontra militarizada em Portugal em
               1194, ano em que D. Sancho I doa àqueles freires a herdade da Guidintesta, vasto território deli-
               mitado pelos cursos terminais do Zêzere e do Ocreza, para nele edificarem o castelo de Belver (DS
               73 de 1194, junho, 13).
               93  Bullarium Ordinis Militiae de Calatrava (BC). Ed. ORTEGA y COTES, Ignacio José. Madrid: Typo-
               graphia Antonii Marin, 1761, Scriptura I, de 1158. A primeira regra da Ordem foi promulgada em
               1164 (BC, Scriptura IV de 1164, setembro, 14).
               94  AYALA, Carlos de – Las órdenes militares hispánicas en la Edad Media (siglos XII-XV). Madrid,
               Marcial Pons, 2007, p. 120. A introdução à Regra de Santiago refere, explicitamente, a invasão al-
               móada como razão da fundação da Ordem (Regla y Establecimientos, de la Orden y Cavalleria del
               Glosioso Apostol Santiago. VILLAFRANCA, P., 1699, p. 79).

                                                                                   33
   40   41   42   43   44   45   46   47   48   49   50