Page 57 - recrutamento
P. 57

1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

               pelos serviços por eles prestados na defesa do castelo . O mesmo rei também
                                                               146
               doou uma vila a D. Egas, clérigo em Santa Maria de Bragança, pelo seu papel na
               defesa dos muros da vila. Ambas as doações decorreram da guerra contra Leão,
               de 1199, que assolou particularmente aquela região transmontana .
                                                                           147
                     A manutenção do potencial humano era também conseguida através da
               hereditariedade das funções militares. Por princípio, na maioria dos concelhos,
               quando um cavaleiro morresse ou deixasse de poder combater, pela idade, o seu
               filho mais velho tomava as suas armas e cavalo e dava continuidade às funções .
                                                                                    148
               Quando isto não era possível, o rei mantinha estável o número de cavaleiros
               reatribuindo diretamente cavalo e equipamento militar de um cavaleiro morto
               a outro elemento que passasse a desempenhar a mesma função. A entrega,
               por parte dos herdeiros, das armas e do cavalo do defunto ao rei era designada
               por  lutuosa,  tendo  vigorado  durante  toda  a  Idade  Média,  sendo  descrita  no
               Regimento da Casa Real, de 1258 .
                                             149
                     A hereditariedade no serviço militar não era um exclusivo os cavaleiros.
               Os serviços normalmente atribuídos aos peões também transitavam de pais para
               filhos. Era desta forma que certos casais tinham por obrigação fazer anúduvas,
               ao passo que outros deviam efetuar serviços de vigilância , ou até dar pousada
                                                                  150
               ao rico-homem quando passasse naquele local .
                                                         151

                     6. Uma sociedade organizada para a guerra
                     Em toda a sua extensão, a sociedade medieval cristã ibérica dos séculos
               XII e XIII estava organizada e dimensionada para a guerra. Quando D. Afonso
               Henriques  assumiu  o  Condado  Portucalense  ainda  existia  memória  viva  dos
               presores da região da encosta norte da Serra da Estrela e vale do Mondego. A
               elite social coimbrã, a que o jovem infante se associou em 1130, era constituída
               por uma cavalaria de origem não-nobre, mas cujo poder e prestígio rivalizava
               com a aristocracia do Entre-Douro-e-Minho.



               146  DS 127 de 1200, maio.
               147  DS 128 de 1200, maio, 23.
               148  Veja-se, por exemplo, o foral de Viseu (PMH-LC-I, p. 360-361 de 1123, maio).
               149  PMH-LC-II, p 199 de 1258.
               150  Como certos casais da terra de Aguiar da Pena (c. Vila Pouca de Aguiar), que tinham por
               missão, a partir de 1218, “ir espiar o rei de Leão” (PMH-I-I, p. 127b.).
               151  Como o casal de D. Teresa Peres, em São Martinho de Anta (c. Sabrosa), PMH-I-I, p. 1237b.
                                                                                   45
   52   53   54   55   56   57   58   59   60   61   62