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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249
pelos serviços por eles prestados na defesa do castelo . O mesmo rei também
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doou uma vila a D. Egas, clérigo em Santa Maria de Bragança, pelo seu papel na
defesa dos muros da vila. Ambas as doações decorreram da guerra contra Leão,
de 1199, que assolou particularmente aquela região transmontana .
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A manutenção do potencial humano era também conseguida através da
hereditariedade das funções militares. Por princípio, na maioria dos concelhos,
quando um cavaleiro morresse ou deixasse de poder combater, pela idade, o seu
filho mais velho tomava as suas armas e cavalo e dava continuidade às funções .
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Quando isto não era possível, o rei mantinha estável o número de cavaleiros
reatribuindo diretamente cavalo e equipamento militar de um cavaleiro morto
a outro elemento que passasse a desempenhar a mesma função. A entrega,
por parte dos herdeiros, das armas e do cavalo do defunto ao rei era designada
por lutuosa, tendo vigorado durante toda a Idade Média, sendo descrita no
Regimento da Casa Real, de 1258 .
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A hereditariedade no serviço militar não era um exclusivo os cavaleiros.
Os serviços normalmente atribuídos aos peões também transitavam de pais para
filhos. Era desta forma que certos casais tinham por obrigação fazer anúduvas,
ao passo que outros deviam efetuar serviços de vigilância , ou até dar pousada
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ao rico-homem quando passasse naquele local .
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6. Uma sociedade organizada para a guerra
Em toda a sua extensão, a sociedade medieval cristã ibérica dos séculos
XII e XIII estava organizada e dimensionada para a guerra. Quando D. Afonso
Henriques assumiu o Condado Portucalense ainda existia memória viva dos
presores da região da encosta norte da Serra da Estrela e vale do Mondego. A
elite social coimbrã, a que o jovem infante se associou em 1130, era constituída
por uma cavalaria de origem não-nobre, mas cujo poder e prestígio rivalizava
com a aristocracia do Entre-Douro-e-Minho.
146 DS 127 de 1200, maio.
147 DS 128 de 1200, maio, 23.
148 Veja-se, por exemplo, o foral de Viseu (PMH-LC-I, p. 360-361 de 1123, maio).
149 PMH-LC-II, p 199 de 1258.
150 Como certos casais da terra de Aguiar da Pena (c. Vila Pouca de Aguiar), que tinham por
missão, a partir de 1218, “ir espiar o rei de Leão” (PMH-I-I, p. 127b.).
151 Como o casal de D. Teresa Peres, em São Martinho de Anta (c. Sabrosa), PMH-I-I, p. 1237b.
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