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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            Revista Militar por oficiais que consideravam esta legalidade contrária ao espírito
            do serviço militar pessoal e obrigatório, que caracterizava o regime monárquico.
            A diferença entre a taxa militar e a remissão era, em termos teóricos, substancial
            no seu peso social e princípio orientador, já que a primeira, de acordo com a
            lei de 1887, era um preço pecuniário por quem não tinha sido incorporado,
            enquanto a segunda era para não ser incorporado .
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                  As  remissões  merecem,  neste  capítulo,  um  apontamento  sobre  o  seu
            impacto no reequipamento do Exército já que foi esse o preço de uma marca
            negativamente  no  sistema  de  recrutamento  durante  a  monarquia.  Como  foi
            sendo observado ao longo dos diferentes regulamentos a remissão a dinheiro
            foi abolida em 1887, introduzida parcialmente em 1892 e completamente na lei
            de 1896. Sousa Teles , aquando da proposta de lei que apresentou, em 1900,
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            para a aquisição de 70.000 armas de infantaria e oito peças de artilharia de
            campanha, assumia claramente que o princípio da remissão do serviço militar
            era condenado na maior parte dos exércitos modernos, mas tinha a utilidade
            prática de produzir receita que de outra forma seria impossível de obter sem
            pesar no orçamento do ministério da guerra. No seu entender, o melhor lado da
            remissão era poder dispor de dinheiro para as necessidades mais urgentes da
            defesa nacional, mas também assumia que era reclamada por outra ordem de
            interesses gerais.
                  Na proposta de lei já citada que o ministro da guerra Sousa Teles apresentou
            para a aquisição das 70.000 armas de infantaria e as oito peças de artilharia
            de campanha referia que para um valor médio anual de remissões de cerca de
            450.000$000 (450 contos) se aprovasse que cerca de 56% desta quantia servisse
            anualmente para pagar juros e amortizar o capital necessário – 3.000.000$000
            – para a compra deste armamento. O remanescente do valor arrecadado pelas
            remissões seria equitativamente, 200.000$000 para cada, destinado à instrução
            das praças da 2ª reserva e à reparação do material existente e aquisição de
            outro  material  de  menor  preço.  Em  1903  a  decisão  foi  de  comprar  cem  mil
            espingardas e trinta e seis baterias de artilharia de campanha e das respetivas
            munições através de um empréstimo total de 4.500.000$000 réis, mantendo a


            54  ALMEIDA, Genipro Da Cunha D’Eça – Remissões. Revista Militar, LX:3 (1908), p. 145.
            55  General do Exército Português (1847-1921). Dedicou-se aos estudos militares e foi em 1898
            Ministro da Guerra de um governo liderado pelo Partido Progressista. Ainda de forma efémera
            chegou a acumular o cargo de ministro da guerra com o de presidente do conselho de ministros
            em 1909. Foi ministro da guerra em três ocasiões (1899-1900, 1904-05 e 1908-1909).
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