Page 400 - recrutamento
P. 400
RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
ministérios da guerra e do ultramar se lançou o convite para a mobilização
dos contingentes, o número de voluntários oferecidos excedeu a expectativa.
Só para a companhia de marinha apresentaram-se para cima de 400 homens,
quando o convite era apenas de 150. No Exército também foi avultado o número
de oferecidos” .
63
A nomeação para o serviço de campanha no ultramar era por escala
de unidades completas. Contudo foi transversal a todas as expedições para
as campanhas em África a necessidade das unidades mobilizadas se fazerem
completar por recurso a militares voluntários vindos de outros regimentos.
a República e a grande guerra
1911 – Uma obrigação para (quase) todos
O paradigma da força armada mudou radicalmente com a implantação da
República. No introito ao novo Regulamento de Recrutamento, de 06 de março
de 1911, foi explicada a nova abordagem que assentava na eliminação dos
exércitos permanentes e na adoção de modelos que favorecessem a existência de
reservas, estas capazes de gerar números de soldados suficientes indispensáveis
ao grande sorvedouro da guerra. Por outras palavras, o caminho era a adoção do
sistema miliciano. E o legislador não deixou dúvidas que o modelo de exército
estava ligado ao regime político, por isso, manter um exército permanente numa
República era “abrir um conflito irredutível entre o velho regime de privilégio e
a grande massa da nação”. Considerava-se que as batalhas exigiriam efetivos
colossais só possíveis pelo recurso a toda a população valida, ou seja, o mesmo
era dizer as batalhas exigiriam a nação em armas, condição sine qua non
êxit
Mas foram apresentadas mais razões para além da lógica imposta pelas
novas batalhas. Segundo a República, o exército permanente que obrigava
os militares a um longo período nas fileiras, tinha os efeitos perniciosos de
os habituar a “uma alimentação mais cuidada e abundante, bem como a
comodidades e confortos” a que não estavam acostumados fazendo-os perder
os hábitos do trabalho profissional e levando-os a procurar nas cidades o seu
futuro, nomeadamente nas corporações policiais e aduaneiras. O resultado era,
63 ROÇADAS, Alves – Relatório da Campanha dos Cuamatos no Sul de Angola em 1907. Colecção
das Ordens do Exército do Anno de 1910 – Parte não oficial. Lisboa : Imprensa nacional, 1910, p. 36.
388