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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
Exemplificativo das escassas ambições reformistas desta lei é o facto de
se terem mantido as substituições e as possibilidades de troca, concedendo-se
ainda maiores facilidades de isenção aos donos de terras, com o argumento de
se penalizar o menos possível o desenvolvimento dos trabalhos agrícolas.
A restante década de 1840, marcada pelos movimentos revolucionários da
Maria da Fonte e da Patuleia, assistiu a um reanimar dos corpos de voluntários
nos vários campos políticos em confronto, mas, nem por isso se dispensaram
os mecanismos tradicionais de mobilização e recrutamento. Aliás, atendendo
ao estado de guerra quase permanente, surgiram mesmo propostas para fazer
regressar o tempo de serviço de sete anos na artilharia e cavalaria e seis na
infantaria para os sorteados, sendo os voluntários agraciados com uma redução
de dois anos em cada uma daquelas situações. Este projeto acabou por ser alvo
de diversos adiamentos e emendas, tendo baixado às Comissões de Guerra e de
Administração Pública para apreciação, mas como nunca chegou a ser aprovado,
o resto da década seria marcado pelo reforço dos processos coercivos.
Revolta da Maria da Fonte (Bordalo Pinheiro)
Com efeito, por via de decretos executivos, assistiu-se à generalização
dos recrutamentos forçados, pelos quais os mancebos logo após o sorteio
eram conduzidos aos depósitos de recrutamento, marchando sob vigilância e
por vezes aprisionados, e quando os sorteios não preenchiam as necessidades
chegou-se a determinar a captura indistinta de quem se encontrasse em
condições de prestar o serviço militar, recuperando-se a tradição proveniente
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